Vozes e Vãos
(Edileuza Penha de Souza e Edymara Diniz, 2025)
Escrito por Riccardo Walmir
Revisado por Giovanna Celestino
Vozes e Vãos
(Edileuza Penha de Souza e Edymara Diniz, 2025)
Escrito por Riccardo Walmir
Revisado por Giovanna Celestino
15 de setembro de 2025
O primeiro longa exibido na Mostra Brasília do FBCB de 2025 foi Vozes e Vãos (Edileuza Penha de Souza e Edymara Diniz, 2025). Conheci a Edileuza quando foi convidada para uma aula sobre cinema negro, na disciplina “cinema brasileiro” na UnB. Foi uma das aulas que mais lembro porque a diretora trouxe pautas e questões muito importantes e interessantes sobre como a pessoa preta é tratada no cinema brasileiro, não só dentro como fora das telas. Neste longa, ela e a co-diretora Edymara abrem espaço para a voz, como o título sugere, a várias pessoas negras.
O documentário lança luz sobre a comunidade quilombola Kalunga, localizada no Goiás, no município de Cavalcante. Os entrevistados são majoritariamente jovens adultos, e essa escolha justifica os temas que as diretoras buscam tratar durante o filme, como os estudos e a entrada no mercado de trabalho. Muitos dos jovens saem para estudar e trabalhar, mas não voltam mais, gerando o êxodo. No filme, é evidente que eles são conscientes de que isso é uma problemática a ser resolvida, sobretudo com os jovens que não concluíram sua formação. A educação é vista como algo muito importante para a comunidade.
O filme carrega imagens de uma forte saturação, deixando suas cores ainda mais vivas e bem coloridas. Não é um documentário só de “cabeças falantes” nas entrevistas, mas em alguns momentos a montagem corta de gente sentada para gente sentada, o que pode incomodar. Na maior parte do tempo os cortes deixam uma imagem bonita sobrepondo à entrevista, como algumas tomadas de drone da comunidade e da natureza vigente no local, e tem variações nas entrevistas como uma em pé - e a minha preferida, do entrevistado André cuidando do seu cavalo.
Essa estética presente me fez lembrar de alguns bons documentários e reportagens produzidos para televisão. As imagens de drone me fizeram lembrar da série documental Brasil Visto de Cima (Décio Lopes e André Baseggio, Globosat, 2014 - atualmente), e as entrevistas saturadas me remeteram ao Globo Repórter (Globo, Ricardo Villela e Miguel Athayde, 1973 - Atualmente). São dois exemplos que eu particularmente gosto e que acho parecidos com esse filme pela forma de sua realização. O documentário aborda vários temas além do êxodo, como o que esses jovens querem para o futuro, como foi crescer nesta comunidade, o preconceito que sofrem principalmente quando vão para fora da comunidade, gravidez na adolescência e tópicos relacionados a cultura como culinária, esporte e festejos.
Mas os tópicos que mais me chamaram atenção foram sobre a união que existe entre eles, como muitos se preocupam se algo contribuirá para a comunidade antes de ser feito. Martha, participante transgênero do documentário, fala que na Kalunga foi o espaço onde ela foi mais respeitada e acolhida. E gostei muito também de ver as vozes do documentário falarem sobre preservação de sua cultura, como os festejos, as folias e as sussas, que fazem parte da identidade deles. É animador ver jovens tendo essa preocupação.
O documentário cumpriu a sua missão de fazer o espectador conhecer a comunidade Kalunga e até mesmo se identificar com esse povo que tem muito a falar e que abraçou essa oportunidade que tiveram com orgulho de poderem dizer quem eles são.