O bicho que eu tinha medo (jhonatan luiz, 2025)
Viver na mata grande
Escrito por Eduardo Tiago
Revisado por Angelo Pignaton
Viver na mata grande
Escrito por Eduardo Tiago
Revisado por Angelo Pignaton
16 de setembro de 2025
O tema do bullying é pertinente em várias obras, tais quais It: a coisa (Stephen King, 1986) e Extraordinário (R. J. Palacio, 2012). Nelas, as vivências de seus protagonistas permitem com que se entenda suas reações, sensações e, principalmente, permite-nos gerar empatia com elas. Para uma obra em que o público-alvo são pessoas com a mesma faixa etária dos jovens protagonistas, ver tais personagens superando seus problemas lhes dão inspiração e motivos para superar os seus próprios.
O filme O Bicho que eu tinha medo (Jhonatan Luiz, 2025) aborda essa ideia sob o olhar do racismo. Logo de cara, vemos Luana, a protagonista, de pele preta e cabelos cacheados, adentrando um lugar que é composto por um grupo de estudantes brancos, que usam máscaras de animais. Ela é rejeitada por eles no início e sofre bullying pelo “chefe” do grupo, que é um jovem com máscara de urso; isso se repete no curta inteiro, até que ela consegue fazer amizades com uma pequena parcela daquele grupo e, junto com eles, destrói as máscaras e faz com que os membros do grupo comecem a viver sem elas.
O ato de colocar uma menina negra como protagonista desse curta é um mérito, sobretudo quando seu público-alvo é infantil. Isso me remete aos vídeos de crianças negras reagindo ao trailer do live action de A Pequena sereia (Rob Marshall, 2023), em que, ao verem a Ariel protagonizada por Halle Bailey, pulam de emoção, chegam perto da tela e falam para seus parentes: “ela é igual eu!”. Então, quando uma jovem, preta, supera o problema do bullying, esse discurso se potencializa e permite com que crianças de mesma pele possam sentir a inspiração e a motivação para derrotarem suas dificuldades.
Mas, mesmo com essa moral e com essa representatividade, o curta não consegue destacar sua resistência como sendo fruto de suas ações e, sim, da empatia do pequeno grupo de amigos por ela e coloca muita ênfase na repetição do bullying. O ato ocorre cinco vezes ao longo do curta (uma animação de nove minutos), com poucas diferenças entre cada um, sobretudo os três primeiros. Isso, ao mesmo tempo em que nunca tira de foco o problema vivido pela protagonista, faz com que pouca coisa se desenvolva e destaca a fraqueza do curta em focar majoritariamente na mensagem, ao invés de explorar o mundo, as relações entre os mascarados e o potencial de Luana, de forma a potencializar o seu discurso.
Por tal característica, a obra assume um lado educativo, em que a linguagem, os acontecimentos, os personagens são simplificados e tudo ocorre de maneira direta, de forma que sua moral seja palatável para o público-alvo. Então, a repetição ganha sentido dentro dessa lógica, mas ela acaba se tornando também o seu maior problema, pois trata com menor importância a resistência da personagem.